A construção do trecho norte do rodoanel Mário Covas margeará a costa sul da Serra da Cantareira e afetará diretamente quatro mil famílias. Destas, pelo menos duas mil serão despejadas. No entanto, a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), responsável pela obra, firmou um convênio com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), em que está previsto a construção de apenas 600 residências, cerca de um terço do que será necessário.
A partir de janeiro, a Dersa começará a realizar um recadastramento das famílias da região. Nele, serão levantadas informações como o número de pessoas que residem em cada casa e o estado de cada residência. Os moradores também terão a oportunidade de escolher entre duas opções, ou serem indenizados em dinheiro ou receber uma nova casa.
Para isso, o que será levado em conta a condição de cada casa. “Como se já não bastasse o problema de ter que se mudar para um local que ainda nem foi definido e o transtorno que tudo isso implica, alguém que reside, por exemplo, em um barraco de madeira, receberá em troca algo semelhante”, diz Hélio Costa, um dos líderes do movimento popular da região.
“Mas conseguimos fazer dos males, o menor. Agora é a população continuar a ficar de olho, principalmente no acordo entre a CDHU e o Dersa, que é quase certo que terá que ser aumentado, pois 600 casas é pouco. Também tem que haver mobilização sobre o destino dessas novas casas, pois eles não podem levar o povo para muito longe”, explica Hélio.
A CDHU informou que ainda depende das informações que serão passadas pelo Dersa para o início das obras das novas moradias. O local dessa construção também não é conhecido por enquanto, mas dizem que não deverá ser distante do local de origem das famílias.
Em audiência pública, realizada na segunda-feira, dia 5 de dezembro, as lideranças do movimento dos moradores informaram às famílias que elas devem se prevenir e se munir de todo tipo de defesa, recolher todos os documentos que tiverem sobre a casa e terreno, tirar o maior número possível de fotos de suas casas, para não correr o risco, futuramente, de receber um valor menor do que o esperado.
Os moradores também poderão chamar alguém de sua confiança para fazer uma avaliação de preço do local. Este valor será debatido com o que a Dersa propor. Os residentes também receberam orientação para não assinarem nada sem saber e, em caso de dúvida, procurar uma liderança do movimento popular.
“Não adianta ficar esperando em casa. A população tem que se organizar. As autoridades só ouvem o clamor popular se o povo estiver falando. Povo quieto é povo desrespeitado”, afirmou o vereador Francisco Chagas (PT), autor do pedido de realização da audiência.
Fruto da mobilização popular, os moradores da zona norte paulista conseguiram algumas mudanças dos planos de obras do rodoanel, como a retirada da alça de acesso à Avenida Inajar de Souza, que não suportaria o tráfego que a obra traria. A Dersa também prometeu que a construção do trecho contará com barreiras acústicas, para diminuir a poluição sonora que a região enfrentará e contenções contra o derramamento de carga tóxica.
Após a fase de cadastramento, a Dersa planeja iniciar as obras em março de 2012. Ela deverá levar três anos até que fique pronta.
Fonte: www.spressosp.com.br