URBANISMO – PLANO PREVÊ URBANIZAÇÃO DA SERRA DA CANTAREIRA

Novos horizontes
Plano prevê urbanização da serra da Cantareira; curadoria foi de secretário nomeado por Haddad

VANESSA CORREA

Teleférico, zoológico e centro de medicina alternativa podem, num futuro breve, transformar o entorno da serra da Cantareira, na zona norte da cidade. Essas são algumas das ideias previstas no documento “Um Plano Urbanístico para a Serra da Cantareira”, elaborado pela Sehab (Secretaria Municipal da Habitação) e que será passado para a próxima gestão.

O plano, obtido com exclusividade pela sãopaulo, pode ganhar corpo nas mãos do futuro secretário de Desenvolvimento Urbano, o arquiteto Fernando de Mello Franco, anunciado na semana passada pelo prefeito eleito, Fernando Haddad (PT). Franco é um dos sócios do MMBB, escritório que atuou como curador brasileiro da 5ª Bienal Internacional de Arquitetura de Roterdã, na Holanda. Foi seu escritório que propôs à Sehab desenvolver uma estratégia para a região, além de orientar o desenvolvimento dela.

Parte do plano, que tinha como foco a bacia do rio Cabuçu de Cima, foi apresentado na bienal, em abril. Depois, as diretrizes foram ampliadas pela Sehab para abranger o restante da borda paulistana da serra.

Agora, o novo secretário disse que deve considerá-lo em sua futura gestão. “Vamos analisá-lo quando eu assumir”, afirmou ele à reportagem.

Segundo a superintendente de habitação popular (departamento onde o plano foi desenvolvido), Bete França, foram traçados cenários para as áreas livres entre o parque estadual da serra da Cantareira e os assentamentos precários do entorno, que vêm avançando em direção à serra, como ocorre na Brasilândia e no próprio Cabuçu.

“São Paulo não tem praia, mas tem a possibilidade de exploração de uma área de mata atlântica virgem”, diz ela. “No Rio, a floresta da Tijuca é o lugar mais visitado depois da praia.”

A Sehab é a responsável pelo reassentamento das pessoas a serem removidas pelas obras do trecho norte do Rodoanel, que vai passar pela área do projeto. A implantação de planos urbanísticos, porém, é da alçada do Desenvolvimento Urbano.

Um dos cenários traçados pelo documento é o incentivo a atividades ligadas à saúde e ao bem-estar. “Existe na serra a possibilidade de clínicas de repouso tranquilas, em uma região mais arborizada”, diz Bete França. O desenvolvimento do turismo ecológico e o de aventura é outra aposta do plano, já que o local concentra grande variedade de fauna e flora preservadas da mata atlântica.

Para a urbanista Nádia Somekh, professora do Mackenzie, o plano “prevê a implementação de uma cidade mais compacta”, já que propõe um “cinturão ecológico de atividades que, articuladas ao Rodoanel, limitam ecologicamente a expansão urbana”. “Poderá evoluir para um projeto urbano mais detalhado se incorporar a participação da população”, ressalta ela.

O arquiteto e editor da revista “Monolito”, Fernando Serapião, viu e aprovou o plano, que, diz, transforma os desafios em solução. “Se o problema é a pressão dos assentamentos irregulares que avançam sobre a mata atlântica, são seus moradores que garantirão a manutenção de toda a área verde, por meio de ações que combinam ecologia, lazer, economia criativa e saúde”, afirma ele.

Já o urbanista João Whitaker, professor da FAU-USP e do Mackenzie, é cético quanto aos benefícios que ele pode trazer. “Pretendendo-se um urbanismo supostamente atual, na verdade ele alavanca a valorização para o mercado”, diz. “É um jeitinho de fazer urbanismo sem o Plano Diretor. Esse plano foi feito em gabinete. A verdadeira participação é um processo que implica toda a sociedade, ocorrendo desde a concepção.”

Zoológico
Com vegetação e animais nativos, o zoológico da serra da Cantareira também trabalharia na preservação das espécies da região e serviria como oportunidade para o desenvolvimento de pesquisas

Teleférico
Propõe a conexão do ponto mais alto da serra com o que o plano chama de portal da região. A ideia é que, além de ser uma atração turística, com restaurante no mirante, sirva como meio de transporte para quem mora ali

Como é o plano

R$ 350 milhões
de investimentos públicos e privados são estimados para implantar todo o plano*

1,2 milhão
de pessoas moram na região, das quais 90 mil em assentamentos precários

Outros detalhes

Áreas temáticas do plano, com ações a serem incentivadas

Lazer
Além de teleférico e zoo, sítios, pousadas, hotel e spa

Produção agrícola
Plantação comercial de bambu, madeira e alimentos orgânicos

Estilo de vida
Feiras, ciclovias e entrega dos orgânicos pelos produtores

Educação
Trilhas, centro de pesquisa e observatório de animais

Atividades
Parque de escalada, trilhas de bicicleta e arvorismo

Saúde
Hospital, centro de medicina alternativa, centro de educação alimentar e centro de pesquisas em doenças tropicais

Fonte: www1.folha.uol.com.br
Revista São Paulo Urbanismo – Novo Horizonte – 18/11/12