Cantareira: histórico

O histórico do abastecimento público de água reflete a história da formação da metrópole paulista. Nas fases iniciais de urbanização, o abastecimento era estruturado sobre atendimentos de pequeno porte, através de um sistema de pequenas represas na Serra da Cantareira. Com a urbanização crescente e o rápido crescimento demográfico provocado pela industrialização, iniciou-se a busca de mananciais protegidos distantes das áreas urbanizadas, como na região do Alto Cotia, em 1914, e no Rio Claro, em 1932, e a utilização múltipla de reservatórios já existentes, como a Guarapiranga (1928) e Billings (1956), construídos com finalidade hidroenergética.

Apesar da ampliação das fontes de água, regiões de São Paulo, como a Zona Norte, continuaram com grandes deficiências de abastecimento. A partir de estudos de aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos do Alto Tietê, coordenados pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), consolidou-se a concepção do Sistema Cantareira.

A implantação do Sistema Cantareira durou quase duas décadas e a construção se deu em duas etapas. A primeira etapa contemplou o aproveitamento dos rios Juquery, Atibainha e Cachoeira, fornecendo vazão nominal de 11m3/s p/ São Paulo, e incluiu a construção das barragens dos rios Cachoeira, Atibainha, Juquery (ou Paiva Castro), Águas Claras, túneis e canais de interligação, Estação Elevatória de Santa Inês com 3 conjuntos elevatórios de 11m3/s cada, e a primeira fase da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guaraú. Estas obras foram complementadas com as do Sistema Adutor Metropolitano, que promove o transporte da água ao conjunto de reservatórios setoriais de distribuição que fazem parte do Sistema Integrado.

Em 1976 tiveram início as obras relativas à segunda etapa, compreendendo as barragens dos rios Jaguari e Jacareí, que propiciaram, a partir de 1981 a adução total de 33 m3/s. Nesta segunda etapa, foram construídos, além da fase final da implantação da quarta bomba da Elevatória de Santa Inês e conclusão da ETA do Guaraú. O sistema foi inaugurado em 30 de dezembro de 1973, e sua operação teve início em 1974.

A região que hoje abriga o Sistema Cantareira era, até o final da década de 1960, marcada pelas atividades econômicas agropecuárias, que ocupavam intensamente as áreas de várzeas. Com a implantação do sistema e seus reservatórios, o perfil socioeconômico da região sofreu uma mudança significativa. As áreas férteis e planas foram inundadas e todo o ecossistema foi modificado. Conseqüentemente, o modo de vida da população que vivia das atividades agropecuárias também foi redefinido.

A construção do Sistema Cantareira se deu durante o período do governo militar no Brasil. Da mesma forma como outros empreendimentos de grande porte realizados neste contexto, não houve envolvimento da sociedade civil no processo, sem que nenhum trabalho prévio de informação e sensibilização da população local tenha sido feito.

Nos dias de hoje, poucos municípios contam com legislação municipal relativa a meio ambiente e controle do uso e ocupação do solo. Faltam instrumentos para aplicação de políticas públicas que direcionem a vocação da região para outros usos que não os urbanos tradicionais, industrialização e especulação imobiliária. Muitos entendem que o fator “meio ambiente” pode ser impeditivo do desenvolvimento dos municípios.

Atualmente, novas áreas industriais estão sendo implantadas à beira das rodovias, principalmente em Atibaia, Bragança Paulista e Extrema (MG). Além da localização privilegiada para a instalação de empresas, a proximidade com a Região Metropolitana de São Paulo faz com que a região, em especial a área dos mananciais, caracterizadas por belas paisagens, seja extremamente atraente para o mercado imobiliário. As atividades de agropecuária vêm cedendo lugar a empreendimentos imobiliários residenciais, como sítios, chácaras e condomínios, resultando em um processo crescente de ocupação do solo nas proximidades dos reservatórios e em toda a região, causando aumento dos danos ambientais.

Publicado em 4 de setembro de 2011

Fonte: www.mananciais.org.br

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