São Paulo e a ameaça de racionamento na Copa. Site de VEJA ouviu especialistas sobre as medidas adotadas pelo governo de São Paulo para tentar evitar o racionamento de água nos próximos meses . Andressa Lelli.

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Nos últimos três meses, enquanto o verão registrava sucessivos recordes de calor, os moradores de São Paulo passaram a conviver com uma nova preocupação: os reservatórios do Sistema Cantareira, principal fornecedor de água para a capital paulista e Região Metropolitana, estão secando. Segundo o comitê de técnicos responsáveis pelo monitoramento dos níveis de água, até julho, quando a maior cidade do país receberá 258.000 turistas, o sistema terá esgotado seus recursos – registrou 14,5% da capacidade na sexta-feira, o menor nível na história.

Para tentar reverter o quadro e evitar o racionamento de água em plena Copa, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) estabeleceu desconto de 30% para o consumidor que reduzir o consumo, reduziu em 10% a vazão (liberação de água) para a Grande São Paulo, cortou 15% da quantidade vendida para Guarulhos e São Caetano do Sul e fez até chover: contratou uma empresa por 4,5 milhões de reais para lançar aviões que jogam gotículas de água na base das nuvens na região do Cantareira. Não foi o bastante.

Na sequência, o governo do Estado iniciou o remanejamento de água das bacias do Alto Tietê e de Guarapiranga para abastecer cerca de três milhões de pessoas. E a mais recente ação foi tomada nesta semana: o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pediu à Agência Nacional de Águas (ANA) liberação para captar água do rio federal Paraíba do Sul para despejá-la no Sistema Cantareira – operação que custará até 500 milhões de reais aos cofres públicos. Como o Paraíba do Sul abastece o Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral (PMDB) iniciou uma queda de braço para impedir a transposição.

Segundo especialistas ouvidos pelo site de VEJA, a principal providência são as obras para o uso do chamado volume morto do sistema, que tiveram início na última segunda-feira. A Sabesp diz que a captação de água começará em maio, ao custo de 80 milhões de reais. Trata-se de um recurso jamais utilizado: para retirar a água, foram compradas dezessete bombas flutuantes, tubos, cabos e geradores. O procedimento deverá resultar em 200 bilhões de litros. Essa água, entretanto, terá de passar por um procedimento especial de tratamento.

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“Os sedimentos são materiais orgânicos. O volume morto é uma região com oxigenação muito baixa, que necessita de tratamento especial. A água é de qualidade duvidosa, suja”, afirma João Luiz Boccia Brandão, professor da Escola de Engenharia de São Carlos da Iniversidade de São Paulo (USP). E não é só. O percurso dessa água, repleta de sedimentos, poderá acarretar problemas nos túneis. “Pode provocar um aumento da sedimentação e, em quatro ou cinco meses, diminuir o volume útil da barragem”, diz Boccia Brandão.

Sistema Cantareira

17 bombas serão instaladas para captar pelo menos 200 dos 400 bilhões de litros armazenados. O volume nunca foi usado e precisa de tratamento especial

Fonte: Sabesp
Custo – Os reflexos do uso do volume morto também deverão aumentar o custo da produção de água, segundo especialistas. “A captação de água na região do volume morto pode implicar na necessidade de adaptação do sistema de tratamento. Essa adaptação, por sua vez, pode aumentar o custo de produção de água potável, a depender da magnitude da intervenção. O que deve ocorrer é que a concessionária deverá arcar com o custo até a estação se regularizar”, diz Rodrigo Moruzzi, professor de Engenharia Ambiental da Unesp de Rio Claro (SP).

“É uma solução que já estava prevista em um estudo de aproveitamento de recursos hídricos para a macrometrópole paulista, mas não resolve o problema”, afirma Luiz Roberto Pladevall, presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento (Apecs).

De acordo com o professor de Engenharia Hidráulica do Mackenzie Paulo Ferreira, os moradores da Grande São Paulo utilizam de 250 a 300 litros de água por dia. Porém, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é possível viver confortavelmente com 150 litros por dia por habitante. “O ideal seria se o Estado estivesse pensando no reuso da água”, afirma Ferreira.

Os especialistas também reclamam que os investimentos do governo estadual são insuficientes. “Não foi São Pedro. A falta de água no Sistema Cantareira é um problema de gestão”, disse Albano Araújo, coordenador de Conservação de Água Doce da ONG The Natural Conservancy, durante o Fórum Água, realizado em São Paulo.

De fato, o governo do Estado já havia sido alertado sobre a vulnerabilidade do Sistema Cantareira. O alerta consta do relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, de dezembro de 2009.

Para Alckmin, a falta de água preocupa, pois pode ser usada como argumento contra a sua gestão em ano eleitoral: o rodízio (racionamento escalonado) de água poderá ocorrer justamente quando ele estiver buscando votos pelo Estado para tentar se reeleger. “A decisão não é somente técnica. Na verdade, na maioria das vezes ela é politica”, diz Rodrigo Moruzzi, da Unesp.

Nesta semana, Alckmin defendeu o uso do volume morto do Cantareira e disse que a captação de água do Paraíba do Sul só daria resultado no ano que vem. “Reserva é exatamente para ser usada em momentos que você precisa. Senão não tem sentido”, disse.

O diretor de Sistemas Regionais da Sabesp, Luiz Paulo de Almeida Neto, afirmou que não houve falta de água em nenhum dos 326 municípios operados pela empresa. A Sabesp disse que investiu 9,3 bilhões de reais de 1995 a 2013 na rede de abastecimento, aumentando a capacidade de produção de 57,6m³ para 73,2 m³. “Sozinho, esse aumento abasteceria Salvador e Fortaleza”, diz a nota da companhia.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-ameaca-de-faltar-agua-em-sp-durante-a-copa

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