Análise: Eficiência pode baixar o preço da passagem

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Os protestos massivos que ocorrem no Brasil desde a semana passada tiveram o grande mérito de se colocar em pauta o transporte público. Os R$ 0,20 de reajuste no início do mês em São Paulo foram abaixo da inflação anual calculada pelo IPCA. Ainda assim, não conseguem realinhar os preços com a inflação do início do Plano Real, em 1994. Se a tarifa acompanhasse a inflação, o preço seria de R$ 2,16, 32,5% a menos que os atuais R$ 3,20. O Metrô deveria custar R$ 2,59 (20% menos).

O Orçamento da cidade de São Paulo não daria conta de conter esse reajuste. Os R$ 1,2 bilhão previstos para o subsídio da passagem de ônibus podem até subir um pouco ao longo do ano, mas nada que consiga reduzir o preço da passagem. O prefeito Fernando Haddad não tem mais de onde tirar dinheiro. As contas do Metrô, que não opera com subsídios, também estão no vermelho. No ano passado o prejuízo foi de R$ 34 milhões. Para zerar o bilhete da passagem, como os manifestantes desejam, a estimativa é de um gasto de aproximadamente R$ 11 bilhões (R$ 6 bilhões para os ônibus e R$ 5 bilhões para o Metrô). Esse dinheiro viria do aumento de impostos ou corte de gastos e investimentos.

Pleitear e obter uma queda no preço da passagem já é mais razoável e factível, apesar de esbarrar no mesmo problema do caixa exíguo. A solução é atacar a estrutura de custos da passagem. Com mais gente usando o transporte público, o sistema ganha escala. Assim, fica mais fácil para pagar com a própria passagem os investimentos e manutenção da estrutura do transporte público.

Hoje isso não é possível. O transporte público em São Paulo é de uma ineficiência atroz. Seja trem, ônibus ou metrô, por regra os veículos são lotados, desconfortáveis e, como os manifestantes bem sabem, cada vez mais pesados no bolso dos trabalhadores. Essas condições são um grande incentivo para o transporte individual. Com o governo federal ainda por cima cortando o IPI dos veículos, está formado um ciclo vicioso. Com mais carros nas ruas os ônibus ficam ainda mais lentos. Ainda mais caros.

As três esferas de governo precisa de uma vez por todas deixar de lado a política de incentivo ao transporte individual. Por mais que o brasileiro ?seja apaixonado por carro?, como insiste a propaganda de uma rede de postos de gasolina, é hora de deixar de lado esse regozijo individual em prol da eficiência coletiva.

Priorizar túneis, estradas e excrescências como as novas pistas na marginal Tietê são flagrantes desperdícios de dinheiro público. Plantam asfalto para colher congestionamento.

Obras de Metrô são relativamente simples em termos de entraves jurídicos. Precisam basicamente de espaço para as entradas ao subterrâneo. Bem mais tranquilas em termos de desapropriações e licenças ambientais do que o faraônico rodoanel. O trecho norte dessa estrada deve custar R$ 5,6 bilhões e vai cortar a Serra da Cantareira, uma das principais reservas de Mata Atlântica remanescentes em São Paulo.

Por serem demoradas, as obras de metrô não conseguiriam resolver as demandas de curto prazo. Isso é com os ônibus. Uma faixa exclusiva para os coletivos custa alguns litros de tinta e placas de metal para sinalizar. Nesta semana, o governo municipal anunciou uma faixa desse tipo na Marginal Tietê. Na segunda-feira ela já vai estar ?construída?.

Apesar dessa iniciativa, a administração da prefeitura, responsável pelos ônibus, também dá seus afagos aos motoristas de carros e motos. O atual prefeito foi eleito com a promessa de zerar a taxa de inspeção veicular da cidade de São Paulo – é esperado que a partir de 2014 os motoristas deixem de pagar a taxa anual de R$ 47,44, o que deve diminuir as multas aos que não cumprem o procedimento. Dinheiro esse que seria muito bem-vindo se fosse destinado ao transporte público.

Fonte: http://www.eleconomistaamerica.com.br/economia-eAm-brasil/noticias/4911959/06/13/Analise-Eficincia-pode-baixar-o-preo-da-passagem.html

Análise: Eficiência pode baixar o preço da passagem
JOÃO VARELLA – 13:49 – 14/06/2013