Arquivo da categoria: DEFESA DA SERRA DA CANTAREIRA

O que são mananciais?

Mananciais de água são as fontes, superficiais ou subterrâneas, utilizadas para abastecimento humano e manutenção de atividades econômicas. As áreas de mananciais compreendem as porções do território percorridas e drenadas pelos cursos d’água, desde as nascentes até os rios e represas.

Publicado em 4 de setembro de 2011

Fonte: www.mananciais.org.br/category/cantareira/saiba-mais-cantareira/

Mananciais de São Paulo

Na Região Metropolitana de São Paulo, o sistema de abastecimento é integrado: 8 complexos são responsáveis pela produção de 67 mil litros de água por segundo, para atender 33 municípios atendidos pela Sabesp e outros 6 que compram água por atacado (Santo André, São Caetano do Sul, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Diadema e Mauá).

Saiba quais são os sistemas:

Alto Cotia

A água vem da represa Pedro Beicht, formada pelos rios Capivari e Cotia do Peixe. A captação é feita na represa da Graça e transportada para a Estação de Tratamento Morro Grande. A produção de 1.000 litros de água por segundo abastece cerca de 400 mil habitantes dos municípios de Cotia, Embu, Itapecerica da Serra, Embu-Guaçu e Vargem Grande.

Baixo Cotia

A fonte de abastecimento é a Barragem do Rio Cotia. A produção de 900 litros por segundos é responsável pelo abastecimento de aproximadamente 460 mil moradores de áreas da Zona Oeste da Região Metropolitana de São Paulo, como Barueri, Jandira e Itapevi.

Alto Tietê

O sistema é formado pelos rios Tietê, Claro, Paraitinga, Biritiba, Jundiaí, Grande, Doce, Taiaçupeba-Mirim, Taiaçupeba-Açu e Balainho. O tratamento é realizado na Estação Taiaçupeba e atinge 10 mil litros por segundo, responsáveis pelo abastecimento de cerca de 3,1 milhões de pessoas da Zona Leste da capital e dos municípios de Arujá, Itaquaquecetuba, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Mauá, Mogi das Cruzes, parte de Santo André e dois bairros de Guarulhos (Pimentas e Bonsucesso).

Cantareira

É o maior da Região Metropolitana de São Paulo. Na Estação do Guaraú são tratados 33 mil litros de água por segundo, que atendem às necessidades de 8,1 milhões de pessoas das Zonas Norte, Central e partes das Zonas Leste e Oeste da capital, bem como os municípios de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul, além de parte dos municípios de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André. O sistema é formado pelos rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri (Paiva Castro).

Guarapiranga

É o segundo maior sistema de água da Região Metropolitana, localizado nas proximidades da Serra do Mar. Sua água é proveniente da represa Guarapiranga (formada pelos rios Embu-Mirim, Embu-Guaçu, Santa Rita, Vermelho, Ribeirão Itaim, Capivari e Parelheiros) e da Represa Billings (Rio Taquacetuba). Produz 14 mil litros de água por segundo e abastece 3,8 milhões de pessoas das Zonas Sul e Sudoeste da Capital.

Ribeirão da Estiva

Capta água do Rio Ribeirão da Estiva e produz 100 litros de água por segundo. Abastece 40 mil pessoas dos municípios de Rio Grande da Serra. O sistema foi escolhido para receber e colocar em prática as novas tecnologias desenvolvidas pela Sabesp ou por parcerias com universidades e centros de pesquisa. O objetivo é torná-lo um centro de referência tecnológica em automação, em todas as fases de produção de água.

Rio Claro

Localizado a 70 km da Capital, produz 4 mil litros por segundo. A água vem do rio Ribeirão do Campo e é tratada na Estação Casa Grande. Abastece 1,2 milhão de pessoas do bairro de Sapopemba, na Capital, e parte dos municípios de Ribeirão Pires, Mauá e Santo André. O sistema foi construído na década de 30, e foi ampliado na década de 70.

Rio Grande

É um braço da Represa Billings. Produz 4,8 mil litros de água por segundo e abastece 1,6 milhão de pessoas em Diadema, São Bernardo do Campo e parte de Santo André.

(site Sabesp)

Publicado em 4 de setembro de 2011

Fonte: www.mananciais.org.br/category/cantareira/saiba-mais-cantareira/

Cantareira

O Sistema Produtor de Água Cantareira é considerado um dos maiores do mundo. Sua área total tem aproximadamente 227.950 hectares (2.279,5 Km²), e abrange 12 municípios, sendo quatro deles no estado de Minas Gerais (Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí-Mirim) e oito em São Paulo (Bragança Paulista, Caieiras, Franco da Rocha, Joanópolis, Nazaré Paulista, Mairiporã, Piracaia e Vargem). É composto por cinco bacias hidrográficas e seis reservatórios interligados por túneis artificiais subterrâneos, canais e bombas, que produzem cerca de 33 m3/s para o abastecimento da RMSP, o que corresponde a quase metade de toda a água consumida pelos habitantes da Grande São Paulo.

Para produzir esta quantidade de água, o Sistema Cantareira faz a transposição entre duas bacias hidrográficas, importando água da Bacia do Piracicaba para a Bacia do Alto Tietê. A água produzida pelo Sistema Cantareira abastece 8,8 milhões de pessoas das zonas norte, central, parte da leste e oeste da capital e dos municípios de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul e parte dos municípios de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André.

Dos 33m3/s produzidos pelo sistema, apenas 2m3/s são produzidos na Bacia do Alto Tietê, pelo rio Juquery. Dos 31m3/s produzidos na Bacia do Piracicaba, 22m3/s vêm dos reservatórios Jaguari-Jacareí, cujas bacias estão inseridas majoritariamente no estado de Minas Gerais. Além deles, as nascentes dos principais tributários do Rio Cachoeira estão localizadas em Minas Gerais, o que faz com que cerca de 45% da área produtora de água para o sistema esteja em território mineiro.

A região do Sistema Cantareira, que já foi predominantemente rural, passou por intensas mudanças desde a construção dos reservatórios, que juntamente com as rodovias que cortam a região, ajudaram a modificar a configuração socioeconômica dos municípios e, conseqüentemente, o meio ambiente como um todo.

Os dados de uso e ocupação do solo em 2003 mostram que a região é extremamente alterada por usos humanos, que ocupam 73% do território, principalmente por campos antrópicos, que abrangem 51,6% de toda a área do Sistema Cantareira. Ao mesmo tempo, restam apenas 21% do território cobertos por vegetação remanescente da Mata Atlântica, em seus estágios inicial, médio e avançado de regeneração.

Os dados são preocupantes, já que a região é de extrema importância para o abastecimento de toda a Região Metropolitana de São Paulo assim como para a região de Campinas e Piracicaba. A distribuição destas categorias de uso do solo tende a se manter, já que estão em expansão na região os usos industriais e urbanos e a silvicultura.
Estas atividades exercem forte pressão sobre os recursos hídricos da região, seja pela demanda de água que geram, seja pela forma de uso e ocupação do solo que impõem à região, muitas vezes comprometedora da produção de água com boa qualidade e em quantidade.

Na confluência das Rodovias Dom Pedro I e Fernão Dias instalaram-se diversas indústrias, principalmente nos municípios de Atibaia, Bragança Paulista e Extrema (MG). Além da localização privilegiada para a instalação de empresas, a proximidade com a Região Metropolitana de São Paulo faz com que a região, em especial a área dos mananciais, caracterizadas por belas paisagens, seja extremamente atraente para o mercado imobiliário.

Proprietários rurais vêm vendendo suas terras para especuladores imobiliários, que as transformam em sítios, chácaras e condomínios destinados aos turistas de fim de semana ou aos que desejam morar em locais com maior qualidade de vida e manter o emprego nos centros urbanos, principalmente na RMSP. Estes empreendimentos imobiliários têm consolidado um processo crescente de ocupação do solo no entorno dos reservatórios e em toda a região, causando aumento dos danos ambientais.

Ao mesmo tempo em que o uso do solo vem se modificando, a região enfrentou nos últimos anos, principalmente no período de 1998 a 2003, uma intensa estiagem, com diminuição dos índices pluviométricos e conseqüente queda dos níveis dos reservatórios do Sistema Cantareira. Em novembro de 2003, o momento mais crítico deste período, o Sistema Cantareira atingiu o alarmante nível de quase 1% de armazenamento e colocou em risco o abastecimento público de quase metade da população da RMSP. Até hoje, os reservatórios ainda não se recuperaram dos impactos da estiagem, já que em junho de 2007, três anos depois, o nível do Sistema Cantareira estava em 45%, o mais baixo dos sistemas produtores da RMSP.

Soma-se a este retrato a baixa cobertura de serviços de coleta e principalmente tratamento de esgoto nos municípios da região. De acordo com informações das prefeituras da região, vários municípios destinam os esgotos coletados aos rios e córregos que alimentam o sistema, sem nenhum tratamento prévio. Por enquanto, a urbanização ainda não é intensa o suficiente para comprometer de forma definitiva os corpos d’água da região. Porém, a piora na qualidade da água já pode ser verificada em quase todos os principais tributários da bacia. Com as tendências que se apresentam e se tal situação se perpetuar, o Sistema Cantareira corre o risco de passar a conviver com os mesmos problemas dos mananciais urbanos da RMSP, como a Guarapiranga e a Billings.

É importante e urgente que os órgãos responsáveis pela gestão desta região, sejam os órgãos municipais, estaduais ou federais, assim como as organizações da Sociedade Civil, passem a olhar para o Sistema Cantareira de forma integrada e implementem ações que garantam vida longa a este manancial estratégico para toda a RMSP.

Clique aqui para acessar a publicação “Cantareira 2006 – Um olhar sobre o maior manancial de água da Região Metropolitana de São Paulo”

Publicado em 4 de setembro de 2011

Fonte: www.mananciais.org.br/category/cantareira/saiba-mais-cantareira/

Cantareira: histórico

O histórico do abastecimento público de água reflete a história da formação da metrópole paulista. Nas fases iniciais de urbanização, o abastecimento era estruturado sobre atendimentos de pequeno porte, através de um sistema de pequenas represas na Serra da Cantareira. Com a urbanização crescente e o rápido crescimento demográfico provocado pela industrialização, iniciou-se a busca de mananciais protegidos distantes das áreas urbanizadas, como na região do Alto Cotia, em 1914, e no Rio Claro, em 1932, e a utilização múltipla de reservatórios já existentes, como a Guarapiranga (1928) e Billings (1956), construídos com finalidade hidroenergética.

Apesar da ampliação das fontes de água, regiões de São Paulo, como a Zona Norte, continuaram com grandes deficiências de abastecimento. A partir de estudos de aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos do Alto Tietê, coordenados pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), consolidou-se a concepção do Sistema Cantareira.

A implantação do Sistema Cantareira durou quase duas décadas e a construção se deu em duas etapas. A primeira etapa contemplou o aproveitamento dos rios Juquery, Atibainha e Cachoeira, fornecendo vazão nominal de 11m3/s p/ São Paulo, e incluiu a construção das barragens dos rios Cachoeira, Atibainha, Juquery (ou Paiva Castro), Águas Claras, túneis e canais de interligação, Estação Elevatória de Santa Inês com 3 conjuntos elevatórios de 11m3/s cada, e a primeira fase da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guaraú. Estas obras foram complementadas com as do Sistema Adutor Metropolitano, que promove o transporte da água ao conjunto de reservatórios setoriais de distribuição que fazem parte do Sistema Integrado.

Em 1976 tiveram início as obras relativas à segunda etapa, compreendendo as barragens dos rios Jaguari e Jacareí, que propiciaram, a partir de 1981 a adução total de 33 m3/s. Nesta segunda etapa, foram construídos, além da fase final da implantação da quarta bomba da Elevatória de Santa Inês e conclusão da ETA do Guaraú. O sistema foi inaugurado em 30 de dezembro de 1973, e sua operação teve início em 1974.

A região que hoje abriga o Sistema Cantareira era, até o final da década de 1960, marcada pelas atividades econômicas agropecuárias, que ocupavam intensamente as áreas de várzeas. Com a implantação do sistema e seus reservatórios, o perfil socioeconômico da região sofreu uma mudança significativa. As áreas férteis e planas foram inundadas e todo o ecossistema foi modificado. Conseqüentemente, o modo de vida da população que vivia das atividades agropecuárias também foi redefinido.

A construção do Sistema Cantareira se deu durante o período do governo militar no Brasil. Da mesma forma como outros empreendimentos de grande porte realizados neste contexto, não houve envolvimento da sociedade civil no processo, sem que nenhum trabalho prévio de informação e sensibilização da população local tenha sido feito.

Nos dias de hoje, poucos municípios contam com legislação municipal relativa a meio ambiente e controle do uso e ocupação do solo. Faltam instrumentos para aplicação de políticas públicas que direcionem a vocação da região para outros usos que não os urbanos tradicionais, industrialização e especulação imobiliária. Muitos entendem que o fator “meio ambiente” pode ser impeditivo do desenvolvimento dos municípios.

Atualmente, novas áreas industriais estão sendo implantadas à beira das rodovias, principalmente em Atibaia, Bragança Paulista e Extrema (MG). Além da localização privilegiada para a instalação de empresas, a proximidade com a Região Metropolitana de São Paulo faz com que a região, em especial a área dos mananciais, caracterizadas por belas paisagens, seja extremamente atraente para o mercado imobiliário. As atividades de agropecuária vêm cedendo lugar a empreendimentos imobiliários residenciais, como sítios, chácaras e condomínios, resultando em um processo crescente de ocupação do solo nas proximidades dos reservatórios e em toda a região, causando aumento dos danos ambientais.

Publicado em 4 de setembro de 2011

Fonte: www.mananciais.org.br

Cantareira: sistema produtor de água

O Sistema Cantareira é composto por:
Cinco reservatórios produtores de água: Jaguari e Jacareí (interligados); Cachoeira; Atibainha e Juquery (ou Paiva Castro);

Túneis e canais subterrâneos de interligação e transferência de água de uma represa para outra;

Uma Estação Elevatória de Água: a Elevatória de Santa Inês, responsável por recalcar a água captada nos cinco reservatórios, vencendo o desnível de 120m de altura da Serra da Cantareira;

Um reservatório de regularização da vazão de água: o reservatório Águas Claras, com capacidade para manter o fluxo contínuo de água durante 3 horas no caso de algum problema com a elevatória;

Uma estação de tratamento de água: a ETA do Guaraú;

Publicado em 4 de setembro de 2011

Fonte: www.mananciais.org.br

Cantareira: principais ameaças

Grandes áreas ocupadas por campos antrópicos, que é uma forma de ocupação do território facilmente substituída por outras, normalmente por atividades humanas, que podem comprometer a qualidade e a quantidade da água produzida.
Aumento dos usos urbanos do território no período de 1989 a 2003, especialmente das áreas de ocupação dispersa, que incluem as chácaras e condomínios, e tendência à expansão urbana, devido à alta disponibilidade de lotes e terrenos disponíveis e à venda e à proximidade com a RMSP e outros centros urbanos importantes.

73% das Áreas de Preservação Permanente (APP’s) no entorno de rios e corpos d’água na região do Sistema Cantareira estão ocupadas por usos desconformes com a legislação que as protegem.

Diminuição das áreas cobertas por remanescentes de Mata Atlântica.

Tendência de piora nos índices de qualidade da água dos principais rios formadores do Sistema no período de 1987 a 2004.

Baixos índices de coleta e principalmente de tratamento de esgoto nos municípios da região.

Expansão da silvicultura sobre áreas de Mata Atlâncitca e das atividades industriais na região.

Falta de áreas efetivamente protegidas (as APAs existentes na região não estão regulamentadas).

Ausência de ordenamento territorial que leve em conta que a região é uma importante área de manancial.

Crescente demanda da RMSP por água e falta de políticas de controle desta demanda.

Desarticulação dos atores da região.

Fonte: publicado em 4 de setembro de 2011 www.mananciais.org.br

O Rodoanel Norte é necessário?

Publicado na Carta Capital em 27 de abril de 2011

O projeto de implantação do Rodoanel Norte tem gerado muita polêmica, com a oposição de entidades, movimentos e moradores das regiões afetadas, além de ambientalistas. As três audiências públicas já realizadas, nos municípios de Arujá, Guarulhos e São Paulo, revelaram um forte descontamento com a proposta. Em São Paulo, praticamente todos se posicionaram contra a obra, da maneira que está sendo planejada. O evento reuniu mais de mil pessoas.

O traçado proposto pelo governo do Estado ameaça seriamente a Serra da Cantareira que, em 1994, foi declarada pela Unesco uma Reserva da Biofera, com status de Patrimônio da Humanidade. A floresta da Cantareira, com cerca de 80 Km2, em grande parte dentro do Parque Estadual da Cantareira, é hoje a maior floresta urbana do mundo. Além disso, corta regiões altamente povoadas, afetando moradores da Zona Norte da capital paulista e dos outros municípios, estão lutando pela alteração do traçado, ainda está em fase de licenciamento ambiental.

Além do forte impacto sobre serra, a obra deverá gerar o despejo de moradores e a desapropriação de imóveis utilizados para moradia. Apenas em Guarulhos, segundo a prefeitura, cerca de 1,2 mil famílias serão despejadas de suas casas e cerca de 4 mil ficarão isoladas pelo obra viária. O Rodoanel irá passar sobre um reservatório de água no bairro Bananal e por uma estação de tratamento de esgoto no Cabuçu. Em São Paulo, além de um grande número de deslocados – há divergência sobre os números, que poderão ultrapassar cinco mil famílias – quatro escolas deverão ser demolidas, com enorme impacto social.

O traçado proposto desrespeita o Plano Diretor Estratégico e atravessa um trecho da Área de Proteção Integral definida em seu Macro-Zoneamento. Ademais, teme-se que o governo, por economia, acabe por transformar trechos que seriam abertos em túnel por uma via aberta, com maiores impactos ambientais.

Do ponto de vista do planejamento, no entanto, a questão deve merecer uma reflexão mais profunda antes de se discutir traçado e as necessárias compensações sócio-ambientais. Antes de mais nada deve-se avaliar, em um amplo debate público, se o Rodoanel Norte é uma obra prioritária, se o anel em torno da Região Metropolitana precisa ser fechado.

O trecho norte do Rodoanel está orçado em 5,8 bilhões de reais mas, como a grande maioria das obras públicas, deverá custar muito mais do que o previsto. Outro tanto deverá ser gasto no trecho leste. É inadimissível gastar essa quantidade de recursos públicos, em uma cidade com tanta carência na área de mobilidade, sem que exista um plano viário e de transportes que demonstre, efetivamente, a prioridade da intervenção, que tanto impacto negativo deve causar, em relação a outras alternativas.

O fato é que o Rodoanel está dando continuidade à tradicional opção pelo automóvel que desde os anos 1940 predomina em São Paulo. Embora anunciado e divulgado como uma intervenção que visa retirar caminhões que entram desnecessariamente em São Paulo, os dados mostram que estes eram apenas 14% dos que se dirigiam para a cidade antes da inauguração do Rodoanel Oeste. No caso do trecho norte, essa porcentagem é muito menor: apenas 6%. O número é baixo por uma razão muito simples: as rodovias Anhanguera, Bandeirantes, Dutra, Fernão Dias e Airton Senna já estão interligadas pela Rodovia Dom Pedro I, entre Campinas e Jacareí. Ademais, existem outras ligações perimetrais na região, como a ligação entre Franco da Rocha e Mairiporã. Estas estradas podem ser melhoradas e ampliadas a um custo financeiro, social e ambiental muito inferior a do Rodoanel Norte.

São Paulo precisa, antes de mais nada, alterar seu padrão de mobilidade, investindo fortemente em transportes coletivos de modo a torná-lo mais competitivo em relação ao deslocamento por automóveis. Caso se continue a investir na ampliação da malha viária sem priorizar corredores de ônibus, metrô e trens metropolitanos, o circulo vicioso – mais vias, mais carros, mais vias, mais carro – nunca terá fim. O debate sobre o Rodoanel precisa ser debatido nestes termos, pois a capacidade de financiamento do desenvolvimento urbano é finita.

O Rodoanel Norte, além de não ser prioritário, trará impactos sócio-ambientais enormes, aspecto que está mobilizando moradores diretamente afetados e os ambientalistas ligados a Serra da Cantareira. No entanto, o debate dessa obra precisa ser feito por toda a população metropolitana, pois o que está em jogo é o futuro da região como um todo.

Fonte: www.mananciais.org.br