Obra provocará aumento de temperatura e risco ao fornecimento de água da cidade, entre outras catástrofes ambientais. Mas o impacto do Rodoanel pode ser ainda maior se vier junto com obra do Ferroanel, agora anunciada pelo governo
Quando se fala em ilhas de calor na cidade de São Paulo, destaca-se a diferença de temperatura entre o centro da cidade e a Serra da Cantareira: são 14 graus a menos, disse a professora Magda Lombardo, especialista no assunto, em palestra recente. A passagem do Rodoanel (um rodovia classe zero, do porte de uma rodovia dos Imigrantes) na Cantareira vai aproximar essas temperaturas. E, infelizmente, é a serra que vai esquentar!
O fenômeno das mudanças climáticas é uma realidade que toca a cada um dos cidadãos do planeta. Basta ver a matéria de sexta-feira passada na Folha de S. Paulo: “Iceberg gigante se desprende de geleira na costa da Groenlândia”.
E o Rodoanel Norte, que já está sendo comparado a uma “nova avenida Marginal”, será rota de fuga para o trânsito urbano. O resultado? Congestionamentos na Serra da Cantareira!
Outro problema da megaobra rodoviária na Cantareira é a forma como comprometerá a água, porque a rodovia vai passar a 300 metros da ETA Guaraú (maior estação de tratamento de água do Brasil) e interceptar seus dutos iniciais. Então, qualquer problema no fornecimento de água dessa ETA, que serve 55% da Grande SP, será uma catástrofe ambiental.
Não bastasse, notícias recentes vêm gerar novos motivos para alarme. Na semana passada, um acordo entre os governos federal e estadual foi anunciado para a criação de um Ferroanel em torno da cidade. Essa obra ferroviária começaria exatamente pelo trecho Norte, e seria paralela ao Rodoanel.
Duas questões se colocam:
• A Serra da Cantareira (e todos os ganhos ambientais que ela oferece) suportará um Rodoanel e um Ferroanel?O Ferroanel, como se disse pela imprensa, viria para eliminar o trânsito de caminhões e trens de carga dentro da cidade. Mas, não é essa a principal justificativa para o Rodoanel: tirar os caminhões que apenas atravessam o perímetro urbano? Então, se haverá o Ferroanel, por que se insistir na obra rodoviarista do Rodoanel, a um custo (inicial) de R$ 6,5 bilhões ?
• O Ferroanel é uma solução defensável, ainda que passe pela Serra da Cantareira, pois pode ter seus impactos muito minorados. Mas não um Rodoanel, que levará caminhões, carros, concreto, asfalto, fumaça e ruído para onde eles não existem.
O movimento SOS Cantareira levantou o rol de 17 razões para dizer não ao Rodoanel Norte:
1. A obra será uma agressão ao maior patrimônio ambiental da cidade, a Serra da Cantareira, área decretada pela Unesco como Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.
2. Obra na contramão da história: em época de busca de sustentabilidade, o governo de São Paulo constrói uma megaestrada, que estimulará ainda mais o uso do automóvel particular.
3. Discutível benefício para o trânsito paulistano, em função do tráfego recolhido por essa obra, que deixaria de adentrar a cidade. Há estudos que mostram que esse benefício seria irrisório, se comparado aos transtornos ambientais e ao custo financeiro.
4. Chegada de enorme quantidade de gases, materiais particulados e ruído urbano a uma região intacta, de preservação ambiental e de mananciais. Significa levar poluição intensa à área de preservação.
5. A proposta do Ferroanel, recém anunciada pelos governos estadual e federal, a começar exatamente no Trecho Norte, contempla a retirada de cargas pesadas do centro da cidade, a um custo de obra 4 vezes menor: R$ 1,2 bilhão. Para que o Rodoanel, se virá o Ferroanel, que pode ter um projeto ampliado, com centros de abastecimento e descarga para os produtos com destino à Região Metropolitana de São Paulo?
6. Risco gravíssimo ao abastecimento de água a 55% de toda a população da Grande São Paulo, uma vez que o traçado proposto intercepta os troncos de abastecimento que saem da ETA Guaraú, na Pedra Branca, a maior estação de tratamento de água do Brasil.
7. O tramo Norte estaria passando em trechos a apenas 11 km do centro da cidade, enquanto em outras regiões está a mais de 20 km do centro. O seu trajeto se dá praticamente só por área de mata e terrenos livres, significando impermeabilização de uma enorme área, cujo recalque de água causará enchentes , sobrecarregando córregos que afluem ao Tietê.
8. São 44 km de estrada, com um calibre de obra de 150 metros, sem considerar as áreas de canteiro de obras, passando por enormes áreas semi rurais e verdes em São Paulo, Guarulhos e Arujá, impactando a saúde e a qualidade de vida de toda a Grande São Paulo.
9. A demanda de tráfego nesse trecho já foi assumida pelo governo como menor do que nos outros trechos. Assim não se justifica os enormes custos financeiros e ambientais anunciados para a obra. Em termos de mobilidade urbana, é discutível a prioridade do investimento inicial de R$ 6,5 bilhões nessa obra, e não na construção de mais linhas de metrô e corredores de ônibus.
10. A Sserra da Cantareira cumpre funções de equilíbrio climático indiscutíveis. A colocação desse colar de asfalto e concreto junto a sua área reduzirá esse benefício à região metropolitana que, historicamente, não deu atenção a um planejamento equilibrado. A temperatura de São Paulo, que tem na serra da Cantareira um atenuador natural, subirá inevitavelmente.
11. Prejuízo a fauna e flora únicas presentes em todo o maciço do Parque Estadual da Cantareira, principalmente em suas áreas de amortecimento, preconizadas em seu Plano de Manejo, gerando mortandades que não podem ser desconsideradas em um momento em que todo o planeta advoga a adoção de medidas de sustentabilidade. Todo o bioma da região metropolitana, já tão frágil, sofrerá tremendamente com essa obra.
12. Desapropriações: retirada de milhares de pessoas de suas residências, construídas ao longo de uma vida.
13. Desconsideração sumária da expressiva manifestação contrária à obra, nas diversas audiências públicas realizadas.
14. Afetação de próprios públicos, como a Emef Hélio Cel. Hélio Franco Chaves, da Capela Histórica de Três Cruzes e da Associação Cultural e Agrícola da Cachoeira (criada em 1928), na divisa de São Paulo com Guarulhos, todos com valor comunitário. Desrespeito com o acervo histórico da primeira estação de abastecimento de água da cidade, na Serra da Cantareira.
15. Infração às regras do Plano Diretor da Cidade de São Paulo.
16. A dúvida de se o Parque Estadual da Cantareira resistirá a uma obra que a transfigura, com a passagem de túneis sob sua área, com concentração de poluentes nas áreas de respiro dos túneis.
17. A falta de estudos de todos os impactos acima apontados, com um natural olhar macro para a região da Grande São Paulo, considerando qualidade de vida e saúde pública como variáveis indispensáveis e inegociáveis, com grande peso, nas análises e decisões de investimentos.
Estamos à disposição para mais informações pelo email rodoanelnorte@gmail.com
Movimento SOS Cantareira
Informações para a imprensa
Eduardo Britto (11 8801-2482)
Regina Rocha (11 9440-4189)
rodoanelnorte@gmail.com
Fonte: www.inteligemcia.com.br – 24 de julho de 2012.