Kassab diz que o “tempo” vai curar as feridas das restrições aos caminhões na Marginal Tietê

Em entrevista exclusiva à Carga Pesada, prefeito de São Paulo afirma que não irá flexibilizar as restrições na Marginal Tietê e que, aos poucos, a iniciativa privada se encarregará de construir locais adequados para os caminhoneiros estacionarem.

Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo

Janaina Garcia, especial para a Carga Pesada

Para o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, “o tempo”, e não a ação do poder público municipal, é que um dia pacificará os ânimos e trará respostas aos problemas gerados ao setor de cargas por conta da polêmica restrição aos caminhões na Marginal Tietê.

A medida foi implantada em março passado e ainda não foi totalmente assimilada por quem se diz prejudicado por ela. “Com o tempo surgirão terminais, por exemplo, em que esses motoristas poderão aguardar para trafegar; as situações vão se acomodando”, avaliou o prefeito.

Em entrevista exclusiva à Carga Pesada, Kassab eximiu da alçada da Prefeitura ações como a construção de estacionamentos de caminhões e mesmo as que visem a maior segurança aos motoristas – duas das principais reclamações geradas pela restrição.

“Os terminais podem ser feitos pela própria iniciativa privada, com incentivo da Prefeitura”, disse, para completar: “Mas as próprias empresas de transporte de cargas vão se acostumar com o novo horário – toda mudança de hábito tem suas dificuldades e é compreensível, mas, por conta delas, não podemos deixar de fazer o que é correto”, alega.

Sobre o aumento de casos de assaltos a caminhoneiros que aguardam nos bairros próximos à marginal, principalmente na Vila Maria e no Parque Novo Mundo (zona norte), o prefeito diz que a situação se trata de uma questão de segurança que deve ser analisada não pela administração municipal, mas pela Polícia Militar, órgão do governo estadual. “E, ao que consta, a PM tem feito um ótimo trabalho na cidade”, discursa.

As restrições na Marginal Tietê despertaram a revolta de caminhoneiros e sindicatos –patronais e de empregados, e de todo o Brasil – que os representam no transporte de cargas. De imediato, uma greve da categoria causou transtornos ao trânsito já complicado da maior frota de veículos do País e o desabastecimento não apenas da metrópole, como de cidades do interior paulista.

De pano de fundo, a greve de poucos dias, mas efeito que extravasou as cenas de postos de combustíveis lotados trazia uma questão: de um modo geral, como abastecer uma região metropolitana de cerca de 20 milhões de pessoas com trânsito de caminhões permitido somente entre 22 horas e 5 horas e das 9 horas às 17 horas?

Formado em engenharia civil e em economia pela Universidade de São Paulo (USP), Kassab garantiu que não haverá recuos, mas, por outro lado, não apresentou exemplos de soluções ou estudos em andamento que apaziguem caminhoneiros e sindicalistas.

Rodoanel: expectativa de ‘solução’, mas promessa antiga

A oferta de vias alternativas às marginais, uma das reivindicações de quem foi afetado pela restrição, deverá, conforme o prefeito, ficar a cargo do Estado quando os trechos norte e leste do Rodoanel ficarem prontos. Para o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo e Região (Setcesp), por exemplo, o ônus da medida, no fim, será repassado ao consumidor.

Em nota, a Secretaria Municipal dos Transportes reforçou a tese do prefeito: “Os trechos oeste e sul do Rodoanel estão prontos e em operação há algum tempo e constituem a melhor alternativa. Mas os técnicos da CET [Companhia de Engenharia de Tráfego], que se reúnem frequentemente com as entidades que representam o transporte de cargas na capital, fazem avaliações contumazes para que outras alternativas possam ser encontradas”.

E Kassab fez coro à pasta. “O Rodoanel foi construído com o objetivo de eliminar o transporte de carga de vias importantes, ao longo do dia, principalmente de quem está de passagem por São Paulo. Não tem nenhum sentido um investimento desse, de bilhões de reais, e não adotarmos algumas medidas que tinham já essa finalidade que tem uma obra como o Rodoanel”, define.

A obra viária, contudo, não apenas é considerada a mais cara (R$ 6,5 bilhões) da gestão do governador GeraldoAlckmin (PSDB), como uma das mais demoradas: o governo falava em entregar o trecho norte (de 47,4 km) em 2014, último ano da gestão, mas admitiu, em março deste ano, que pode ficar para 2015. Já o trecho leste (42 km) tem previsão de entrega para o fim de 2013 ou primeiro trimestre de 2014.

Só o trecho norte, segundo a gestão tucana, deverá receber cerca de 65 mil veículos por dia –dos quais 17 mil seriam caminhões retirados da marginal Tietê.

A liberação dos VUCs é a ‘salvação’ do abastecimento, prevê Kassab

Sem a previsão de medidas que mudem o panorama do transporte pesado na capital paulista, Kassab diz acreditar que os VUCs (veículos urbanos de carga) “são uma realidade em São Paulo” e que deverão, eles, sim, contribuir para a “organização do abastecimento” da cidade.Em média, um caminhão de grande porte, de 20 toneladas, equivale a cinco VUCs.

No último dia 16, o Diário Oficial da Cidade publicou o decreto que libera a circulação dos VUCs em todos os dias e horários da chamada ZMRC (Zona de Máxima Restrição à Circulação de Caminhões), ou centro expandido. A região pega avenidas como a Francisco Morato, Nove de Julho, Rebouças e Paulista. Antes da liberação, esses veículos só podiam circular na ZMRC das 10 horas às 16 horas; apesar do recuo, a medida não os isenta do rodízio municipal de veículos e nem da obtenção de uma autorização especial fornecida pela prefeitura.

Por sua vez, o prefeito não admitiu ter cedido a pressões do setor – ainda que os VUCs no centro expandido fossem reivindicação antiga do Setcesp.

“Não se trata de decisão pessoal: a Prefeitura segue um plano diretor da cidade de São Paulo e a partir do qual todos estavam se preparando para isso, era previsto e com impacto que será muito positivo no trânsito será positivo”, avalia.

Para Kassab, “é evidente” que,com a flexibilização de horário de circulação dos VUCs, “as pessoas agora em vez de terem três veículos pequenos para o abastecimento, vão ter um só”.

“Serão três veículos ‘transformados’ em um. Existe uma bobagem que alguns falam, eu diria até que um disparate, de que quem tem hoje um caminhão e não faz o transporte de dia vai agora utilizar três VUCs. Não tem nenhum sentido, pois quem precisa transportar com o caminhão pesado, o fará de madrugada. Não vai trocar um motorista por três motoristas, ou um tanque de combustível por três, ou ainda um IPVA por três IPVAs. É a conta e a comparação diferente que devem ser feitas: são pequenos utilitários que serão convertidos agora em VUCs”.

O prefeito não cita números, mas afirma que os caminhõezinhos no centro expandido, durante o dia, já teriam impactado em melhorias no fluxo. “O abastecimento está sendo feito de uma forma mais organizada e é fato: os VUCs são uma realidade. E os transportadores, ao longo desses anos, se prepararam para essa medida, porque era um compromisso que tínhamos assumido no início da gestão”.

Para o trânsito, resultados também restritos para reduzir congestionamentos

Se os VUCs de fato trouxeram a organização evocada pelo prefeito, a restrição aos caminhões pesados ainda não parece ter surtido resultado expressivo na redução do congestionamento da cidade: pelos números da própria Secretaria Municipal de Transportes, a partir de estudos da CET, entre 5 de março (quando começou a valer a medida) e 3 de abril, no horário do entrepico, das 9 horas às 17 horas, a cidade registrou uma queda de 5,1% de lentidão e, na Marginal Tietê, um aumento de 3,9%. “Esse índice está dentro do previsto, pois este é o horário em que os caminhões estão liberados para circular na Marginal e no Minianel Viário”, informa a pasta.

Já no pico da manhã (7 horas às 9 horas) a CET aponta diminuição nos congestionamentos: redução de lentidão de 12,8% na cidade e de 23,9% na Marginal Tietê, em comparação ao mesmo período de 2011.

“Os resultados são muitos positivos, porém, é evidente que estamos acompanhando os índices para aperfeiçoamentos que possam ser feitos. Mas existe uma satisfação muito grande com a implantação das medidas, cuja maioria já foi adotada”, conclui o prefeito.

Balanço do caixa

Pelos números da CET, no primeiro mês da restrição na marginal e no Minianel Viário foram aplicadas 81.588 autuações aos caminhões que desrespeitaram a regulamentação de circulação. A infração, do tipo média, rende multa de R$ 85,13 e acúmulo de quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Fonte: cargapesada.com.br – em 01/06/2012.

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